Eu acordo todos os dias com a sensação de estar atrasada. Quando vejo que não estou, enfio a cara no travesseiro e começo a praguejar baixinho e a planejar o meu dia. Eu detesto acordar. Por causa dos rostos que eu tenho de ver, dos sorrisos que eu tenho de dar, e principalmente por causa dos meus enjôos matinais.
Eu me levanto e me sinto meio tonta. O meu estômago começa a protestar contra o meu esquecimento diário de me alimentar à noite. Então, eu me dirijo até o espelho e penso: "vou ter de dar um jeito nisso." Quem acha que acorda bonito, mesmo com a cara inchada e o cabelo despenteado, está terrivelmente enganado. Ninguém é bonito de manhã.
Eu me dirijo tropeçando até a cozinha, por estar um pouco sonolenta e esquecer os meus óculos no meu quarto. Eu quase não consigo enxergar sem eles, eu nem sei por que tento.Entro no banheiro,e sento no vaso. Nunca está bom pra mim. Parto para o mingau que a minha avó me obriga a tomar - ela diz que ajuda a regular o meu intestino, embora eu desconfie que não há nada capaz de regulá-lo realmente. Uma colherada e as minhas entranhas se reviram. Não há nada que seja tão viável de manhã quanto o famoso café com leite. Bebo tudo, bem forte, e volto para o meu quarto.
No caminho, começo a sentir náuseas. Nunca foi nenhuma novidade e eu aprendi a lidar bem com isso com o passar dos anos. Ignoro. Minhas entranhas são como animais de estimação mal-educados. Elas podem se revoltar a qualquer momento sem motivo aparente, mas no final eu quase sempre consigo domá-las. Coloco o uniforme - aquele uniforme horrível que faz com que eu me sinta uma vaca. Me sinto tonta e fraca e procuro me apoiar na cama. Então, volto ao banheiro e lavo o meu rosto com a água fria que entra em choque contra a minha pele pálida e me dá uma sensação absurdamente prazerosa.
Sinto o gosto da bílis. "Eu vou vomitar", penso, e torço para que seja algo rápido que não comprometa os meus compromissos. Náuseas. Me agacho defronte ao vaso sanitário. Minhas mãos ficam geladas e eu perco totalmente a cor. Um líquido ácido sobe pela minha garganta, causando arrepidos na minha nuca e arrancando de mim uma careta. Vomito dentro do vaso toda a água que eu bebi durante a madrugada, o mingau e alguns pedaços digeridos de pão. Mais náuseas. Eu começo a me irritar. Mais vômito. Bílis. Vômito. Comprimo o meu estômago, desesperada para que a dor passe. Grito. De raiva, angústia e medo. Grito com os meus próprios órgãos, esperando sinceramente que eles me obedeçam. "Pára, pára, pára, por favor." Choro. Também de raiva por não conseguir manter o meu corpo sobre o meu controle. Choro por sentir o gosto ácido do vômito na minha boca e não ter forças para me levantar e lavá-la. Choro por viver o mesmo drama durante a minha vida inteira e não conseguir mudar isso.
Finalmente passa. Eu fico encolhida por um bom tempo num canto do banheiro, gemendo e chorando baixinho, com as mãos gélidas na minha testa. Chega uma hora em que passa e eu simplismente me levando e sigo a minha vida normalmente, sem precisar contar a alguém o que aconteceu. E eu só espero nervosamente até a próxima manhã em que todo o meu pesadelo se repetirá.
O mundo me enoja, e acordar me dá náuseas.
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