Sabia que a vida era misturar-se a ela. Abriu o baú e recolheu as antigas fotos. Recortou uma por uma. Queria esquecer seu passado e as cicatrizes que a deixavam atordoada. Pensou, "não tenho como recortar também as memórias". Percebeu que o seu passado estava em uma estante de vidro como livros dividos, expostos e empoeirados.
Jogou os recortes dentro do baú. Enterrou. O velório de suas lembranças mantinha somente a sua presença, intacta. Como um inferno de passagens atiradas para fora do portão, decidiu que iria afastar-se das pessoas, como se fosse possível esquecer certas coisas. Naquele instante, a claridade entrou pela janela. Escutou uma voz passear pelo quarto, mas nem deu importância. Deitou na cama e suspirou. Fechou os olhos. As lembranças e as vozes estavam ali.
Percebeu que os livros nunca sairiam da estante de vidro. Respirar era perigoso. A vida era misturar-se a ela.
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